Tem momentos na vida (ou seriam todos eles?) em que sentimos avanços e passos largos na mesma medida em que algo fica em espera, um pouco para trás. Parece um jogo sem fim: tentar equilibrar, e ainda assim viver em constante desequilíbrio. Talvez realmente não seja possível conquistar tudo sem abrir mão de algo. É como se estivéssemos extremamente felizes por alcançar algo que um dia sonhamos, mas, ao olhar para o lado, percebemos que outra parte retrocedeu, ficou em espera, ficou para trás.
Estava, inclusive, há alguns dias, trocando áudios com uma grande amiga que se mudou recentemente para outra cidade. Os milhares de quilômetros e os rumos diferentes que pareciam compor vidas tão distintas entre São Paulo e Barcelona nos uniam em sentimento. Depois de uma temporada fora do país e de conquistar certificações reconhecidas e tão desejadas na sua área, ela decidiu mudar de cidade por conta de uma grande oportunidade de trabalho, exatamente naquilo com que sempre sonhou. Na nossa troca de áudios, falávamos sobre o quanto estávamos felizes, o quanto demos saltos altíssimos, o tanto de coragem que nos trouxe até aqui, e o quanto alcançamos coisas que, em algum momento, pareceram tão inalcançáveis. Mas, por outro lado, havia uma parte de nós que não estava acompanhando tudo isso.
Malas, apetrechos, roupas, livros, recordações, móveis e tantos outros itens acumulados ao longo da vida estavam espalhados por casas de pais, sogros, cunhados e depósitos. Parece mesmo que a nossa casa e tantos objetos nossos — algo que sempre tivemos como garantido — não andam com a gente. À medida que damos tantos passos para frente, algumas coisas acabam ficando em segundo plano. E seguimos adiante, mesmo abrindo mão de algumas coisas, porque o caminho faz muito sentido.
E tudo bem deixarmos em espera uma parte de nós que, no fundo, gostaríamos que estivesse acompanhando no mesmo ritmo. Ainda assim, sentimos esse desequilíbrio — principalmente na rotina de buscar incessantemente um cantinho, no esforço de transformar uma casa temporária em lar, no processo de entender os bairros e zonas mais convenientes, no aceitar mudar de novo e de novo, no desapegar de tantos itens que talvez nem precisemos tanto quanto imaginávamos — mas que, de alguma forma, fazem falta.
Seja em relação a isso ou a qualquer outra coisa, parece que essa sensação sempre estará presente: a impressão de que algo falta ou o desejo de querer mais, mesmo diante de grandes e poderosas conquistas.
Afinal, esse sentimento não parece surgir só dos grandes feitos ou das grandes viradas da vida, mas ele parece estar sempre ali, desde os pequenos e quase imperceptíveis movimentos do dia a dia, como a sensação de riscar tarefas concluídas e perceber quantas ainda restam ou se acumularam.
Aquela sensação persistente de que nunca damos conta de tudo.
Mesmo que a vida adulta nos ensine, todos os dias, que não podemos ter tudo, mudanças intensas, como trocar de cidade ou de país, deixam evidente que aquilo que sempre consideramos certo pode acabar ficando de lado. E é nesse momento que percebemos a importância de ter objetivos extremamente claros, para que o que está em espera não nos desespere.
Afinal, se nosso olhar estiver sempre voltado para os desequilíbrios, quem aproveitará o que está em equilíbrio? Quem realmente desfrutará de tudo o que conquistamos? Quando nos damos conta de que, na verdade, já estamos em muitos lugares que um dia queríamos estar?
Apesar dos apesares, estamos construindo algo muito maior: nossos próprios sonhos. E, com eles, vem algo que jamais poderíamos calcular. Um universo de conexões e descobertas que transforma tudo. Conhecemos pessoas maravilhosas que nos acolhem e nos recebem como se já fizéssemos parte de suas histórias. Muitas vezes, elas vivem momentos tão parecidos com os nossos que a conexão se torna autêntica e genuína. Essas pessoas se tornam família.
Também encontramos lugares que, antes desconhecidos, começam a nos abraçar de formas inesperadas. De repente, cafés, mercados, parques e restaurantes que nunca havíamos pisado passam a fazer parte do nosso cotidiano. Caminhos que antes sequer cruzaríamos se tornam tão nossos que mal conseguimos lembrar como era a vida sem eles. E, sem perceber, falamos outras línguas, adotamos novos costumes, descobrimos novos desejos. Exploramos um mundo que nem sabíamos que existia.
Nessas vivências, encontramos novos pedaços de quem somos.
E não quero estar distraída pelo que falta ou desesperada para ter mais, a ponto de perder isso tudo de vista. Tudo o que vivo, descubro e me torno. Tudo o que suamos e escolhemos conquistar. Mesmo sabendo que algumas coisas seguirão em outros ritmos e que sempre haverá algo em desequilíbrio, é preciso haver um lado que vibra, que curte e que usufrui de tudo o que já estamos conseguindo.
Afinal, talvez o que fica em espera seja necessário para nos dar tudo o que estamos ganhando no caminho. E quem sabe a maneira como enxergamos tudo isso — tanto o que avança quanto o que fica em pausa — seja a chave para aproveitar ao máximo o que a vida nos oferece. Porque, no fundo, essa sensação persistente de que algo está faltando, de que sempre queremos mais, talvez nunca desapareça por completo. Ela faz parte do movimento, do processo, do impulso que nos leva além. Mas, junto com ela, há ganhos imensuráveis, muitos dos quais jamais imaginamos. E que, no fim das contas, nos fazem perceber que estamos vivendo o que um dia tanto sonhamos.
"Entendi que a vida não tece apenas uma teia de perdas, mas nos proporciona uma sucessão de ganhos. O equilíbrio da balança depende muito do que soubermos e quisermos perceber."
Lya Luft
Até mais,
Luiza